quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

O que é a Equanimidade?

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A forma ideal de equanimidade abraçada pelo Budismo inclui, também, o ter uma atitude igual para todos os seres, sem os limites que temos o hábito de desenhar entre amigos, estranhos e aqueles que consideramos “pessoas difíceis”.
Na tradição Budista o termo equanimidade (Upeksha em sânscrito, Upekkha em Pali) é uma construção complexa e que tem sido alvo de várias definições ao longo do desenvolvimento do pensamento Budista.
Na sua essência é a palavra para “olho” e “ver”, com um prefixo sugerindo ‘contemplação’ ou observação, sem interferências.

Na literatura Budista Theravada (que será o nosso principal foco neste artigo devido à prevalência deste ramo especial do Budismo nas intervenções clínicas actuais baseadas em mindfulness), existem dois principais usos do termo equanimidade.
Primeiro, pode referir-se a “sentimento neutro”, uma experiência mental que não é nem agradável nem desagradável e que não envolve nem intensificar nem diminuir os estados mentais (Bodhi, 2000). Este primeiro uso do termo equanimidade corresponde à noção psicológica ocidental de “valência neutra” e é comummente experimentado ao longo de qualquer dia do nosso quotidiano.
O segundo significado de equanimidade, corresponde a um estado mental ou característica que não são facilmente alcançados e, normalmente, requer alguma forma de prática. É “um estado mental que não pode ser influenciado por preconceitos e preferências” (Bodhi, 2000), uma serenidade face a todo o tipo de experiências, independentemente do prazer ou da dor estejam ou não presentes” (Thanissaro Bhikkhu, 1996).
Este estado de equanimidade manifesta-se como “uma reacção equilibrada na alegria e na tristeza e que protege contra a agitação emocional” (Bodhi, 2005).
 Em resumo, reformulando esta definição em termos modernos, a equanimidade é um estado mental sereno ou uma tendência disposicional para todas as experiências ou objectos, independentemente da sua valência afectiva (agradável, desagradável ou neutro) ou fonte. Aqui usa-se o termo sereno na sua definição comum, como um estado calmo, estável e tranquilo.
A equanimidade envolve também um nível de imparcialidade (ou seja, não sendo parcial ou tendencioso), de tal forma que se pode experimentar pensamentos ou emoções desagradáveis sem reprimi-los, negá-los, julgá-los ou ter aversão. Da mesma forma, num estado equânime pode-se ter experiências agradáveis ou recompensadoras, sem se estar super-animado ou tentar prolongar essas experiências ou tornar-se viciado nelas.
Grabovac, Lau e  Willett (2011) descrevem a equanimidade como uma “abordagem de experiências agradáveis, desagradáveis e neutras com igual interesse.”
Deve notar-se que isso vai contra as nossas tendências habituais para procurar o agradável e evitar o que é desagradável. Na perspectiva Budista, essas duas tendências são formas de desejo (Taṇhā em Pali, literalmente “sede”), que constitui a origem de todas as formas de sofrimento e insatisfação (dukkha) (Bodhi, 2000; Analayo, 2003).
Além disso, deve-se notar que a forma ideal de equanimidade abraçada pelo Budismo também inclui ter uma atitude igual para todos os seres, sem os limites que temos o hábito de desenhar entre amigos, estranhos e aqueles que consideramos “pessoas difíceis”. Noutras palavras, “considerar todos os seres como iguais no seu direito a ter felicidade e a evitar o sofrimento” (Tsering, 2006) e “tratá-los sem discriminação, sem preferências e preconceitos” (Bodhi, 2000). Este aspecto da equanimidade pode ser cultivado com métodos específicos de prática contemplativa.

Bibliografia 

– Analayo. (2003). Satipatthana: The Direct Path to Realization. Cambridge, UK: Windhorse Publications.
– Bodhi, B.(2000). A Comprehensive Manual of Abhidhamma: The Philosophical Psychology of Buddhism. Onalaska, WA: Buddhist Publication Society Pariyatti Editions
– Bodhi, B. (2005). In the Buddha’s Words: An Anthology of Discourses from the Pali Canon. Somerville, MA: Wisdom Publications.
-Grabovac, A. D., Lau, M. A., & Willett, B. R. (2011). Mechanisms of mindfulness: A Buddhist psychological model. Mindfulness,2(3), 154–166.
-Thanissaro Bhikkhu (1996).Wings To Awakening: An Anthology From The Pali Canon. Barre, MA: Dhamma Dana Publications.
-Tsering, G. T. (2006). Buddhist Psychology. The Foundation of Buddhist Thought, vol. 3. Somerville, MA: Wisdom Publications. 

 Vítor Bertocchini
 Fundador e Presidente da Sociedade Portuguesa de Meditação e Bem-Estar | Mindfulness Institute Psicólogo, doutorado em Psicologia da Saúde pela Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto. Tem trabalhado na investigação,teórica e empírica, centrada nos determinantes da felicidade. Tem desenvolvido a sua actividade profissional como psicólogo escolar e psicoterapeuta. Tem forte interesse no funcionamento psicológico positivo, onde descobriu o valor fundacional das práticas contemplativas, como a abordagem Mindfulness e o Yoga, entre outras. Nos últimos 15 anos tem praticado diferentes formas de Meditação e de Yoga com instrutores nacionais e internacionais. Editor principal da revista da Sociedade Portuguesa de Meditação e Bem-Estar – Mindfulness Institute
Fonte:  http://spm-be.pt/m/author/vitor-bertocchini/

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