Eu trabalho no brejo e muito da minha percepção do Pantanal vem dali. O Pantanal é brejo na cheia e continua a ser na seca, naqueles reconditos onde as plantas aquáticas sempre vicejam, onde os jacarés repousam e os mosquitos proliferam. Os brejos de lama, das macegas dos camalotes, de estranhos bichos que se esgueiram no barro, as águas turvas. O domínio dos animais frios, anfíbios e répteis, da sucuri, da caiçaca e da boca-de-sapo.
Mas é lá também que crescem os jardins de plantas aquáticas, das flores roxas dos camalotes, das brancas dos chapúes de couro, das pervincas perfumadas, das flores noturnas das ninféias. Das muitas formas de vida: as aquáticas livre-flutuantes, as flutuantes-enraizadas, as emergentes, as submersas, as que crescem sobre outras aquáticas, epífitas tão diferentes das que crescem sobre árvores. É no brejo que os animais buscam água na seca. E é lá que tudo se cria: alevinos, girinos, insetos. As aves nidificam entre as plantas do brejo. Uma espécie de sopa primordial - para as trevas ou para a luz, conforme se queira. O desconhecido, o selvagem, o inatingível. Tudo o que nos amedronta e não se pode dominar. Ou a simbologia da fertilidade, da transformação, a mãe-natureza.
Eu gosto do brejo, e é lá que quero estar.
Foto: Carlos RLehn
Fonte: http://ruderal.blogspot.com/2006/07/de-trevas-e-luz-os-brejos.html
Sobre sapos, brejos e festas